Cineclube Pupilo no 2º Festival Ó Lhó Lhó

Cineclube Pupilo no 2º Festival Ó Lhó Lhó

Cinema, diálogo e resistência em rede

O Cineclube Pupilo participou ativamente do 2º Festival Ó Lhó Lhó — Festival Cineclubista e Mostra de Cinema Independente Catarinense — com sessões de filmes e nas rodas de conversa que colocaram em pauta os desafios e potências da prática cineclubista e da cultura comunitária no estado de Santa Catarina.

Exibições sensoriais: afetos e territórios

Na quinta-feira, o público assistiu ao curta Terra, Vento e Água, obra poética que conecta elementos da natureza às experiências humanas, promovendo uma imersão sensorial e contemplativa. Na sexta-feira, foi exibido Do Peito da Pele, que explora o corpo e a memória como campos de expressão e afeto. Ambas as sessões provocaram reflexões e ampliaram o diálogo entre quem faz e quem assiste ao cinema como prática coletiva.

Cineclubes: espaço de formação e transformação

As rodas de conversa do sábado reforçaram a importância dos cineclubes como territórios de convivência, crítica e mobilização. Foi destacado o papel desses espaços no rompimento com a lógica passiva de consumo audiovisual. Ao promover o debate e a reflexão, os cineclubes tornam-se ferramentas de educação política e cultural, onde o público é agente ativo.

Apesar da fragmentação e da precarização que atravessam a cena cultural, o movimento cineclubista se mantém vivo na força das coletividades e das comunidades que o sustentam. A busca é por um fazer que não seja sobre a comunidade, mas com ela — promovendo escuta, troca e pertencimento.

Cultura Viva: política pública como movimento social

Uma das rodas mais potentes tratou da Cultura Viva como política pública e como prática de resistência. Surgido como programa de governo no início dos anos 2000, e posteriormente institucionalizado como política de Estado, o Cultura Viva propõe uma nova forma de se pensar o fomento cultural: a partir das comunidades, para as comunidades.

Foi discutida a diferença entre iniciativas como o Cultura Viva, nascidas da articulação entre sociedade civil e poder público, e outras mais recentes, de caráter institucional e top-down, como praças culturais planejadas sem envolvimento das bases comunitárias.

A cultura viva propõe outra lógica: apoia coletivos, grupos sem fins lucrativos e agentes culturais que atuam nas bordas, nos territórios vulnerabilizados, nas periferias. São os chamados Pontos de Cultura, espaços de cultura viva que nascem da prática local e constroem políticas públicas desde a vivência e não apenas desde a gestão.

Direitos autorais, direitos culturais e acesso ao audiovisual

No domingo, a roda de conversa mergulhou nos desafios e tensões que envolvem os direitos autorais e os direitos culturais no Brasil. Foi ressaltado que a história dos direitos autorais é marcada por disputas e que, muitas vezes, esse direito serve mais aos interesses da indústria cultural do que aos autores e pequenos produtores.

Em contraponto, os direitos culturais envolvem não apenas a produção, mas também o acesso, preservação e transmissão do patrimônio cultural. Garantem o direito de todos participarem da vida cultural local, nacional e — com a internet — até global. Esses direitos são sustentados constitucionalmente, mas carecem de regulamentações claras.

Manifesto cineclubista catarinense: construção coletiva e resistência viva

Encerrando o festival, foi iniciado um importante processo coletivo: a construção do Manifesto dos Cineclubes Catarinenses. Esse documento nasce da escuta e da vivência acumulada ao longo das rodas de conversa, das exibições e da convivência entre diferentes coletivos do estado.

O manifesto expressa a urgência de políticas públicas construídas com e para as comunidades, a necessidade de acesso real ao audiovisual como ferramenta formativa e transformadora, e a força dos cineclubes como espaços vivos de resistência cultural.

Com base na utopia do possível, o manifesto é um chamado à ação coletiva. Reafirma que fazer cultura é um direito, não um favor — e que a cultura viva resiste porque floresce onde menos se espera, enraizada nos afetos, nos encontros e na potência de imaginar e construir outros mundos.

Encerramento e Gratidão Coletiva

A participação no 2º Festival Ó Lhó Lhó foi uma experiência potente de intercâmbio, escuta e construção conjunta. Agradecemos imensamente a oportunidade de compartilhar saberes, vivências e desafios ao lado de tantos agentes culturais comprometidos com uma cultura feita com e para as comunidades. Seguimos fortalecidos, certos de que a rede cineclubista catarinense é viva, criativa e resiliente — e que encontros como este são fundamentais para manter acesa a chama da transformação coletiva através do audiovisual.

Foto de Ana Isabel Costa

Ana Isabel Costa

Foto de Ana Isabel Costa

Ana Isabel Costa

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