Timbó Grande pertencia a Curitibanos, assim como boa parte do Planalto, nos tempos da Guerra do Contestado. Lá também se ergueu o último reduto de resistência do povo Caboclo. No Vale de Santa Maria. Este lugar tão emblemático para a história do conflito, onde ocorreu a batalha que ficou conhecida como o genocídio da Páscoa, em 1915, receberá, nos dias 11 e 12 de agosto, a Mostra de Cinema Chica Pelega. Com isso, mostra às novas gerações a sua história, retratada em produções audiovisuais feitas por catarinenses desta região.
Os estudantes da rede municipal de ensino acompanharão a exibição dos curtas-metragens “Kiki, o ritual da Resistência Kaingang” (2014); “Olhar Contestado” (2012) e Larfiagem (2017). Seguido de uma conversa com o caboclo, educador e comunicador popular Jilson Carlos de Souza. Integrante do Fórum Regional em Defesa da Civilização e da Cultura Cabocla do Contestado e da Associação Paulo Freire de Educação e Cultura Popular (APAFEC), de Fraiburgo.
No dia 11 de agosto, serão duas sessões: às oito horas da manhã e à uma e meia da tarde. No Auditório da Bernek, que fica na Rua Antenor Ribeiro, no Bairro Boa Vista.
No mesmo dia, às seis e meia da tarde, haverá uma sessão aberta ao público e gratuita, onde será exibido o longa-metragem “Terra Cabocla” (2015), na Escola de Educação Básica Machado de Assis, que fica na rua Claudiano Alves da Rocha,no Centro da cidade.
No dia 12 de agosto, às oito horas da manhã, novamente na Escola Machado de Assis, será a vez dos alunos do Novo Ensino Médio assistirem aos curtas-metragens que foram exibidos no dia anterior, encerrando a passagem da Mostra de Cinema Chica Pelega por Timbó Grande.
OS FILMES
TERRA CABOCLA – 2015 / 82 minutos / Direção: Márcia Paraíso e Ralf Tambke Produtora: Plural Filmes
Cem anos depois, o povo caboclo resiste. A visão de que Santa Catarina é um estado branco europeizado anula outras identidades que fazem parte da formação do estado catarinense. A Guerra do Contestado foi um dos conflitos mais sangrentos que aconteceu no Brasil. Na região do Planalto Catarinense ainda persistem caboclos, como é chamado o povo que ali habitava quando aconteceu a Guerra do Contestado, cultura e rituais ainda são mantidos. A Guerra é pouco discutida, pouco falada, o que acaba indicando uma opção política de silenciamento cultural. É a luta pela terra.
KIKI, O RITUAL DE RESISTÊNCIA KAINGANG – 2014 – 34 minutos/direção: Cassemiro Vitorino e Ilka Goldschmidt / Margot Filmes
Kiki é como é chamado o mais importante ritual da etnia indígena Kaingang. No passado era realizado anualmente, para que os falecidos recentes da aldeia fizessem uma boa passagem ao numbê – o mundo dos mortos. O ritual foi retomado em 2011 na aldeia Condá, no Oeste Catarinense, 10 anos depois da última vez que ele havia sido realizado, mostrando que a língua Kaingang resiste. A preparação da bebida levou mais de 10 dias. Os rostos pintados definem as duas metades: kamé e kainru-kré. O filme, depois de pronto, foi entregue na aldeia e distribuído para lideranças de diferentes povos na ONU, durante conferência em março de 2017, em Genebra, na Suíça. Foram feitas cópias em Kaingang, português, inglês e espanhol.
OLHAR CONTESTADO – 2012 / 15 minutos / direção: Fabianne Balvedi e Fernando Severo
A produção utiliza efeitos de câmeras virtuais sobre registros fotográficos, ilustrações e desenhos rotoscopiados sobre documentários da época. Fornecem os elementos visuais necessários para a reconstituição minuciosa dos locais, personagens e eventos do conflito. As principais fotografias utilizadas são de Claro Jansson, fotógrafo contratado pela Madeireira Lumber, que registrou passagens fundamentais da “Guerra Santa do Sul”.
LARFIAGEM – 2017 / 18 minutos / Gabi Bresola / Ombu Produções e Magnolia Produções Culturais
Meninos que tinham entre 8 a 15 anos e faziam “bicos” em volta da Estação Ferroviária de Herval do Oeste nos anos 1950, a “boa malandragem”, como eles contam, durante as gravações para o documentário, já com seus 60, 70 anos, criaram uma forma própria de se comunicar. Uma forma que eles pudessem combinar o preço para levar as bagagens dos viajantes até o hotel ou engraxar os sapatos sem que os outros clientes pudessem entender. E assim poderiam cobrar preços diferenciados – conforme o cliente. Os falantes que participam do filme nos levam de volta ao universo particular que criaram quando crianças.